segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Ainda acham que é normal




Sapatilha bordô, meia 7/8, saia preta, corselet. Olhos delineados, boca vermelha, máscara de Veneza. Até hoje não sei do que estava fantasiada, mas será que acharam que era de palhaça? Éramos apenas uma família e alguns amigos reunidos para pular um frevo ou ouvir aquelas músicas toscas cheias de sujeira que só dá pra aguentar no Carnaval, sem fazer mal a ninguém.

Gosto de registrar esses momentos. Fotografei tudo o que pude. Gente pulando com dedinho para cima e de olhos fechados, a banda de frevo, a minha irmã vestida de Minnie, e as caras dos meus tios e tias quando nem sabiam que estavam sendo fotografados. As pessoas passavam com as suas fantasias elaboradas, criativas, ou até muito toscas, mas tudo o que era diferente era motivo para um clique. Fotos minhas para me lembrar desse dia... Não tenho mais nada disso.

É quando de repente chega um filho da mãe e arranca os registros de um dia feliz da sua mão, arranca a sua vontade de festejar, arranca a câmera que registrou parte da viagem mais incrível da sua vida, arranca seu carnaval das suas mãos, e deixa para trás com você, o medo, o ódio, a revolta. E isso não é tão fácil de arrancar.

No primeiro momento paralisei. Depois, vi meu pai correndo atrás do safado e fui atrás dele no meio da multidão, o coração acelerado, preocupado. Logo encontrei um policial, e o paspalho disse que viu tudo. Por que não fez nada? Devia ter perguntado, feito um barraco, sei lá. Então veio uma dezena de caras do BOPE para procurar o ladrão. De que adiantaria agora? Encontrei meu pai, são e salvo, eu agradeço, mas sem câmera.

Voltei para o nosso lugar. Deram-me água. Sentei na cadeira, tremi feito vara verde, tirei minha máscara e chorei.

Chorei porque estava em choque, chorei porque as minhas lembranças seriam logo trocadas por qualquer nota de 50 reais, chorei porque as pessoas tentavam me consolar sem sucesso (e isso irrita), chorei porque elas não vinham me consolar (e isso me faz pensar que não estão nem aí para mim), chorei porque estavam zombando do meu 'drama', chorei porque eu só queria deitar na minha cama e ninguém percebia isso! Chorei porque eu sabia que nada seria feito, chorei porque eu sabia que não seria mais a mesma, chorei porque eu poderia estar feliz como os outros.

Brasil, multidão, cachaça, música alta, vista bonita, gente feliz, e desgraçados que te tiram o que é seu sem dó nem pena. Disseram-me que isso acontece mesmo, e que é normal. Na boa, isso não é normal para mim. As pessoas são feitas de trouxas e acham normal, isso não deveria ser assim.

Saí sem nenhum arranhão no corpo, e nem me mostraram uma arma na verdade, mas agora eu sei o que é ser assaltada e as feridas que isso deixa na sua mente. Vou perdendo o pouco patriotismo que me resta, sem me orgulhar disso, querendo cada vez mais me mandar daqui, sabendo que isso acontece em qualquer lugar do mundo, mas imaginando que outros povos não vão achar absurdos como esse tão normais. 


Quem aí já foi assaltada? Aposto que muitas, infelizmente...

13 comentários:

  1. Passei aqui para perguntar se você curte esmaltes, pois no meu blog o Montando o Look está rolando um sorteio de um kit de esmaltes da Impala muito lindo. Para participar é muito fácil, confira o regulamento aqui: http://montando-o-look.blogspot.com.br/2013/02/sorteio-de-1-ano-de-montando-o-look.html BEIJÃO.

    ResponderExcluir
  2. Eu :(((
    Flor, sei exatamente o que vc ta sentindo, mas não é nada comparado ao que eu senti.
    Eles apontaram a arma para toda a minha família, ficavam tirando e colocando o pente de balas, levaram um monte de coisas importantes, dentre esses itens, coisas importantes que não tem preço. Memórias.
    Levaram meus textos recém escritos que estavam no meu computador, perdi fotos, perdi tanta coisa...
    Sei sua vontade de se mandar do Brasil, às vezes sinto a necessidade de me mandar do mundo, apenas. Dramático? Não sei. Mas que já se passou isso por várias e várias vezes pela minha cabeça, já.
    Fico pasma ao ver que todo mundo acha normal esse tipo de comportamento.
    Não foi drama, apenas desespero mesmo. As pessoas não compreendem sentimentos e ainda conseguem julgar. Tolos.
    Desculpa pelo pequeno texto... Assim que eu li as emoções daquele dia (do assalto) voltaram.
    Acho que esse não é um bom momento, mas amo seu blog!
    Poste mais!
    beijos,
    Tamy

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. O que eu senti não deve ter sido nada diante do que você sentiu. Afinal, pelo menos a minha vida, nem a da minha família, estava em risco. O que você diz não é dramático. É claro que "se mandar do mundo" não é algo recomendável, mas é compreensível diante do que você passou. Quem se sente uma mera dramática, sou eu.

      Ficamos pasmas em ver tantos crimes serem considerados normais nessa sociedade, não ligam para esses meros maloqueiros que roubam as coisas que pertencem a nós, e ligam muito menos para os grandes políticos que roubam dinheiro do nosso país. Lamento morar em um país tão lindo, mas com tantas pessoas com esse tipo de pensamento. Tolera uma coisa dessas, é é tão intolerante em coisas tão simples.

      Fico feliz em ter conseguido despertar emoções em alguém, mas fico triste em te lembrar um momento tão difícil. Espero que um dia nós superemos o que aconteceu, mas espero que nunca consideremos coisas como essas normais.

      Fico muito feliz que tenha gostado do blog, e para a sua informação amo quando alguém tem o carinho de deixar um comentário grande. Beijo Tamy. <3

      Excluir
  3. Putz, um texto desse e a fia ali nem se importa e vem so divulgar essa m.... Desculpa, mas fiquei com raiva agora. Voltando ao que importa...
    Eu ja fui assaltada 3 vezes, sem nem ter tempo para pensar, no momento vc se sente uma assassina, quer matar o safado que te levou algo que era seu, mas depois um sentimento de raiva te toma, junto vem o nojo e a tristeza por pertencer a esse lugar onde a segurança parece ser uma fantasia, um conto de fadas.... Eh muito triste.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Pois é, eu também fico chateada com divulgações, mas vamos relevar.

      Realmente, ódio descreve o que se sente, não é mesmo? Mas pensando melhor, também tenho um sentimento de pena junto ao ódio. Pena dessa pessoa medíocre que não é capaz de conquistar as próprias coisas, de correr atrás dos próprios sonhos, eles são parasitas sanguessugas sem capacidade para conseguir o que quer sem tirar dos outros. É muito triste. Segurança deveria ser realidade e violência ficção, e não ao contrário.

      Excluir
  4. AH eu já fui assaltada sim! E foi horrível! Apontaram a arma pra min para o meu avó e minha mãe foi terrível.
    Mais ficou muito bonito seu texto flor!
    http://www.momentosassim.com/

    ResponderExcluir
  5. Olá linda, você fui indicada para responder um tag lá no meu blog (:
    Este é o link :
    http://altamentecriticavel.blogspot.com.br/2013/02/tag-11-coisas.html

    Beijos da Lua

    ResponderExcluir
  6. Olha, isso nunca aconteceu comigo não, mas eu MORRO de medo, sério mesmo.
    Fico feliz por não ter acontecido nada com você!
    Beijos

    (http://www.conspiracaovital.com/)

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Morria de medo, e agora o medo só fez se elevar ao quadrado. Obrigada, espero que não aconteça contigo, beijos!

      Excluir
  7. Minha casa ja foi assaltada, por tres maginais, foi horrivel...
    Nao quero nem lembrar... Marcou a minha vida e com certeza as dos meus pais.

    Beijos, Jay.
    @jairlanyo
    http://jairlanyoliveira.com

    ResponderExcluir

Dê seu pitaco!

➳