quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Fundo falso

Uma música calma, voz, violão e gaita, a faz pensar. E pensar a faz querer escrever. E escrever faz com que ela mostre o que deveria esconder num fundo falso do seu coração, para que até ela esqueça que aquele sentimento existe e está lá guardado, ou todos eles.

Ela costuma não confiar muito, costuma ser fria, solta aquele riso triste sentindo o coração quebrando. Na verdade, por muitas vezes ela nem desejaria ter um. Poderiam inventar uma anestesia de sentimentos, ela seria a primeira a usar. O que ela mais quer é calar de vez a droga da voz daquele órgão que só sabe falar tum tum tum. Talvez ela seria menos idiota.

Ela é do contra, não muito convencional, e detesta ser normal. Entretanto, normalidade as vezes é tudo o que ela deseja, ou precisa. Ela é tudo e nada ao mesmo tempo. É a contradição, o antagonismo. É a antiquada e a vanguardista. Tem uma estranheza sutil que é dela e só dela. 

Ela não se permite. Um cinema, uma praia, uma festa, uma lágrima, um beijo. É muita perda de tempo, de dinheiro, de fôlego. Mete a cara nos livros e se esconde atrás do monitor. Achava que seria alguma coisa, algum dia se continuasse assim. Sabe, crescer na vida, ser aquilo que um pai sempre sonha para uma filha. Não precisar de ninguém. E achava que era fácil, que podia. Se toca. Ela não é tão boa o quanto pensava.

Se encolhe no chão do banheiro enquanto suas lágrimas se misturam com a água do chuveiro, bem baixinho, bem quietinho, para ninguém saber o que está se passando com ela. Chorar em público é quase um pecado, tudo o que ela quer é ao menos parecer inabalável. A sua sorte é ter nascido uma boa atriz.

Ela vive dentro de uma caixa trancada invisível que só ela pode abrir, uma caixa feita aos poucos por ela mesma, um pouco de proteção, um esconderijo. Chamo essa caixa de medo e a sua chave de coragem. Bem, isso ela não sabe onde encontrar, sugiro que ela procure lá, naquele nundo falso, onde ela esconde todas as suas vontades. Aquelas bobagens necessárias para te fazer sentir vivo.

E quer viver. Ela aprendeu muitas coisas na escola, mas viver, ah, disso ela ainda não sabe.

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