quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Casinha da alma


Nos últimos dias só há um assunto na boca do grupo da família, uma prima de quarto grau tatuou o nome do namorado e vice-versa nas costas em um tamanho... considerável. Para acabar de completar, as boas e más línguas não falam muito bem do tal rapaz que contrasta com a aparente fragilidade e meiguice da mulher que está quase acabando a faculdade. Sabe como é, ninguém imagina a boca que fala manso beijando a boca com aroma de ervas não tão frescas assim.  

Ah, como as pessoas falam – e vão falar sempre. Estou aqui para provar isso. Confesso que amo saber a história de cada um, sou curiosa mesmo, gosto da fofoca. É certo? Claro que não, sempre soube que não. Não é segredo para ninguém o quanto isso pode ser nocivo. É desnecessário. No entanto, seria utópico demais imaginar uma sociedade em que ninguém metesse o bedelho onde não é chamado. Mas, olhe bem para o que você fala. Discutimos a vida do outro em rodinhas de conversa como um bate-bola depois de uma partida de futebol. Isso é bizarro! 

Afinal, quem somos nós? Somos seres superiores? Não! Não somos ninguém. Inclusive, se soubéssemos a verdade absoluta sobre como ter uma vida digna, feliz e bela, a nossa própria vida seria assim. Só que não. Todo mundo vive na famosa merda, falando do outro enquanto falam de você.


Isso me levou a pensar sobre mais coisas. Além do impulso de dar pitaco em cada aspecto da vida do outro, parece que quando se trata do que as pessoas (principalmente mulheres) fazem com o próprio corpo a coisa piora. Ainda que me pareça uma burrice eternizar na pele algo que qualquer pessoa lúcida entenda ser passageiro, o corpo é dela e dele faz o que ela bem entender. Cada um já é bem grandinho para saber o que se faz ou deixa de fazer. É aquela velha conversinha, não pagamos as contas de ninguém, então, que direito temos? E na boa, mesmo se pagássemos...

“A roupa é curta demais”. ”Você deveria colocar silicone”. “Você malha demais”. “É tão bonita, pena que é gorda”. “Não emagrece para não perder a bunda”. “É mais bonita loira”. “Por que você cortou seu cabelo?”. “Você cobre demais seu corpo”. “Nossa, ela não se depila”. “Você vai parecer uma marginal com tatuagens”. "Como você teve coragem de fazer topless?". “Essa roupa não te favoreceu". “Sério que você ainda não transou com o seu namorado?”, “Não acredito que você já deu para ele”. Ah.

Atire a primeira pedra quem nunca falou algo do tipo.  Vai, admite logo, esse é o primeiro passo. Depois, amiga, ou amigo, toda vez que pensar em dizer asneira, reflita. Todo mundo tem espelho. Entenda que se alguém saiu de casa de qualquer forma que seja, foi porque o reflexo – teoricamente - a agradou. É isso que importa. E se não agradou, a própria vai procurar mudar o que a incomoda ou não. Não tem problema algum nisso. 

Já ouviu dizer aquela frase bem batida “Meu corpo, minhas regras”? Ela não podia mais verdadeira. Essa coisinha aqui feita de carne e osso, só pertence a nós e ponto. E dele, amiguinha, você pode fazer o que quiser. Pense que ele é a casinha da sua alma. As regras da sua casa você mesma escreve. Exija que sejam cumpridas tanto quanto você respeita asdos vizinhos. Decore-a como quiser, traga visitas (ou não), cuide dele bem direitinho porque não dá para se mudar dessa casa mas saiba que um dia, não tem como fugir, ela vai ser demolida de qualquer jeito. Com você dentro. 





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