sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Universodades

fuck, shit, and test image

A vida dá voltas e acaba entrando em brechas que você jamais pensou entrar. É como as leis, com seus buracos e interpretações. Acredita que tem gente que ganha dinheiro com isso? Não acredito que vou estar no meio dessa gente. Realmente, há mais coisas entre o céu e a terra que nossa vã filosofia. Vou contar o que aconteceu comigo, porque ninguém entendeu, e na verdade eu também não.

Não faço ideia onde vou chegar com tudo isso, é só uma reflexãozinha de caloura. Nossa, é tão estranho ser chamada de caloura. Usar esse linguajar me parecia tão distante e de repente, é minha realidade.

Ano passado passei na federal em jornalismo e queria muito ter ido estudar lá. O problema? Eu ainda iria começar o terceiro ano. Na minha cabeça, eu achava que deveria ter ido atrás de uma liminar, sei lá, não tem gente que consegue fazer faculdade antes do tempo? Então, eu deveria pelo menos tentar. Só que eu estava lá na Bahia com meus pais e além disso, eles não deram a mínima por eu ter passado no vestibular. Ou seja, perdi a vaga.

No início, parecia o inferno. Ressentimento, pressão, piadinhas... Era como se aquela aquilo nunca tivesse acontecido. Nunca fui uma aluna exemplar, quer dizer, apesar de ter sempre as melhores notas, nem eu sabia de onde elas vinham. Mas dessa vez foi diferente, eu realmente joguei a toalha. Eu fui uma idiota. Não sei como não peguei nenhuma recuperação, depois de brigar com professores, perder provas, ir para a direção, dormir, ler, escrever, desenhar, e fazer qualquer coisa na aula menos estudar, ou simplesmente não aparecer lá.

Tudo isso começou por raiva mesmo. Depois, como sempre, ela passou. Aí já era tarde demais para fazer alguma coisa. Fazer o quê? No meio dessa confusão, uma greve de sei lá quantos meses começou, e foi aí que percebi que tudo isso era o universo me dizendo para não ir para uma universidade pública. Será? Ah, esse universo...

Chegou o dia do ENEM. Zero preparação. Já tinha conseguido convencer meus pais que a particular era a melhor opção e, apesar de me sentir super desconfortável com a ideia de fazer eles pagarem faculdade para mim, fui fazer o exame tão leve quanto uma pluma. Estava ali só por diversão. É, eu amo fazer provas de múltipla escolha, me julguem. Para mim é como um daqueles joguinhos legais de perguntas e respostas ou um teste da Capricho. Vai saber, tem doido para tudo.

O primeiro dia foi uma delícia. O segundo também, se não fosse a redação. Céus, tema perfeito. O problema era eu mesma, é incrível como consigo ser tão ruim com provas de redação. É o meu timing, sei lá. Poxa, era minha obrigação fazer algo decente. Que tipo de estudante de comunicação eu seria? Não riam, mas o título do meu texto foi "Meta a colher nessa briga, violência não". Na hora, fiquei muito nervosa. Depois, ri disso tudo e achei que não daria em nada até conferir o gabarito. 

Foi aí que pensei que até que daria para alguma coisa. Fazer jornalismo na particular e outro curso numa pública em outro horário. Sendo ambiciosa, pensei em design de interiores ou arquitetura na segunda chamada. Era uma forma de não me sentir tão culpada com tudo isso. Falei para os meus pais bem no dia do vestibular da particular e eles aprovaram a ideia. Nesse, eu sabia que iria passar, porque, convenhamos, qualquer um passa. Só são sabia que seria em primeiro lugar. E não, não postei isso no facebook, se quer saber.

Até que o resultado do ENEM saiu e eu tomei um dos maiores sustos da minha vida.

940 pontos só numa redação que não teve nem rascunho, só um título ridículo. Juro que achei que era um erro. Atualizei a página várias vezes para confirmar, e para a minha surpresa não era mentira. Eu sei que a UFAL não é grande coisa, mas era bizarro ter nota para passar em qualquer curso exceto medicina.

Foi aí que direito entrou na minha vida.

Quer que eu diga a verdade? Esse curso jamais foi uma opção até ter nota suficiente para ele. Nunca foi meu sonho. Direito para mim era um curso de gente que só segue a vontade do pai ou não sabe o que quer. Mas... foi tão tentador entrar nesse mundinho de notas de corte altas que eu simplesmente não resisti.

De um lado, quem me conhece de verdade me achou louca. Por outro, eu dava gostinho para a minha família e eu odiava isso. É claro que meu pai ficou maluco. Ele também fez direito e achou o máximo. O mais engraçado foi que ele passou no vestibular quase da mesma forma. Eu, no meio disso tudo, só quis aproveitar a sorte.

Me senti traidora dos meus próprios princípios, mas fui. Foi por livre e espontânea vontade própria. E o pior, é que eu estou gostando da ideia. Ainda assim, confesso que tenho um pouco de medo. De ser seduzida por isso tudo. Sabe, o dinheiro, o respeito, a segurança. Não quero acabar num escritório ou passar anos desempregada estudando para concursos públicos. Essa não sou eu. Quero apenas entender mais sobre como o mundo funciona, abrir a minha cabeça para ser uma jornalista e pessoa melhor. Estou animada para isso. Ainda desejo com todas as minhas forças trabalhar com jornalismo e esse lance de direito é só um hobbie, no máximo, um plano B. Eu só quero aproveitar a oportunidade que eu tenho de estudar enquanto posso. Só isso. Se der errado, deu. Eu tranco, largo, sei lá. Eu só quero tentar.

Não sou muito de pensar no futuro. E se já achava irracional planejar cada passo, agora não tenho dúvidas. Sabe esse script que você escreveu? Joga fora. Ele não serve para nada. Sabe todas as suas certezas? Joga fora também. As vezes a gente não sabe muito bem o que fazer, mas jura com toda certeza do mundo sobre o que não vai fazer. Nunca. Nunquinha. Nunca paguei tanto a língua. Isso é de todo ruim? Claro que não. É só... a vida sendo a vida e seres humanos sendo seres humanos.

Não estou escrevendo aqui por ter passado no vestibular. Estou aqui para jogar conversa fora, contar minha história, salvar meus sentimentos, sei lá. Estou aqui para falar da vida. De como ela é louca, surpreendente, e as vezes, injusta.

As vezes me sinto mal por ter tido tanta sorte. Como falar sobre justiça se eu mesma só estarei lá porque o mundo é injusto? Como você se sentiria depois de conseguir o que tanta gente luta tanto depois de um ano de vadiagem? O que será que meus amigos pensam? Aqueles que estudaram de verdade? Aqueles que realmente queriam aquilo? Aqueles que não levam isso como um mero passatempo? Aquele que não tem papai e mamãe para pagar uma particular? Que justiça é essa?

Eu não sei. Mil perdões, mas lá vou eu. Não é culpa minha ter sorte. A vida dá voltas e sempre acaba me levando para os lugares certos. Tenho até medo do quanto o universo é bom comigo. Talvez nada disso estaria acontecendo se eu não tivesse perdido a vaga ano passado. O que me faz pensar na bobagem que tudo tem um porquê. Destino? Pff. É que tudo tem um lado bom e ruim, o lado ruim já passou e agora estou com o lado bom. Porque só passei naquela maldita prova porque eu não me senti pressionada, e eu só não me senti pressionada porque eu não havia estudado, e eu só não estudei porque não tinha cabeça depois de ficar puta com meus pais, e eu só fiquei puta com eles porque perdi a vaga. Entendeu?

Tá, e o que vocês tem a ver com isso? Na verdade, nada. Se você passou no vestibular, me chame para a festa. Se não, não fique achando que é burro por isso. Dessa vez não deu, só isso. Talvez você não tenha tanta facilidade de aprender, talvez se pressionou demais, talvez não estava num bom dia... Eu sou a prova viva de que o ENEM não mede inteligência, o que, na verdade, me faz ter muito medo da faculdade. Enfim, vai dar tudo certo. Uma hora ou outra. E talvez "dar tudo certo" não seja exatamente o que você está imaginando.

Ah, é só a vida sendo a vida. Trotes do universo.

Lanchinho de comemoração com os amigos. <3
Gostaram do resultado do ENEM?  Passaram no curso que queriam? E vocês que já fazem faculdade, como vocês passaram? Quero histórias nos comentários!

2 comentários:

  1. Engraçado você se dizer ruim em provas de redação sendo que escreve tão incrivelmente bem, sério.
    Então me deixa entender: cê vai fazer duas fucking faculdades ao mesmo tempo? uau! heh
    Tô escrevendo um post pro meu blog falando um pouco sobre isso tbm... quer dizer, é sobre minha necessidade de ser a melhor em tudo, mas vai entrar o fato de eu ter passado por acaso numa faculdade pública. Prestei vestibular da USP e UNICAMP no segundo ano e fiquei super bem colocada entre os treineiros de ciências biologicas. No terceiro ano, mudei de opinião e prestei Letras, fui pra segunda fase aos trancos e barrancos e não passei. Fiquei um ano extremamente desanimada e meus pais meio que me obrigaram a me inscrever na FATEC aqui da minha cidade. No mesmo dia da prova, prestei um concurso público de manhã e fiz o vestibular de tarde, já exausta. Fiquei extremamente surpresa ao descobrir que passei entre os dez primeiros de um curso que nunca tinha pensado em fazer (Informática para Gestão de Negócios). No fim das contas foi bom não ter feito USP e UNICAMP, eu seria uma pessoa muito diferente se tivesse estudado por lá... As coisas vão se encaixando, né?
    Eu acho que é tudo mais uma questão de causa e consequência do que só o destino propriamente dito (não acredito em destino, btw).
    Um beijo!

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    1. Sim, eu sou péssima com essa questão de tempo para escrever em provas. Em questões objetivas eu vou até rápido, já para fazer um texto, eu preciso de calma. O que acontece é que eu sempre faço as redações na doida e para a minha surpresa, acabo ganhando boas notas naqueles lixos.

      Pois é, vou fazer duas faculdades! Quer dizer, vou tentar. Se eu vou me formar? Só Zeus sabe.

      E cara, que incrível passar na USP! Sempre imagino que é quase impossível estudar lá porque a concorrência é absurda. E sobre esse lance de passar em um ano e no seguinte não passar, eu sei bem como é. Uma vez meu pai foi fazer o concurso do Banco do Brasil, passou com uma colocação excelente, porém, a prova foi anulada por questões de fraude. Já na segunda prova, ele não conseguiu fazer nem o mínimo. Cara, ele entrou em depressão. Até que foi fazer o concurso da Caixa super desacreditado e passou! Talvez esse não seja o emprego dos sonhos dele, e não é, mas de qualquer forma, foi com a Caixa que ele conseguiu realizar muitos de seus desejos e consequentemente, da sua família. Sem falar que mesmo sendo super estressante, é um ótimo lugar para trabalhar e ele parece estar feliz assim.

      E não, eu também não acredito em destino. É só uma questão do ponto de vista como vemos as coisas. Como você disse, causa e consequência. Até um simples estralar de dedos desencadeia uma reação. O que você fez no passado, reflete hoje. Às vezes coisas boas trazem coisas ruins, às vezes coisas ruins trazem coisas boas. Quase sempre é tudo isso misturado. Sei lá, é a vida.

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