sábado, 9 de abril de 2016

Aceite-me, jornalismo


Ontem foi o dia do jornalista. Parabéns para mim? Seria meu sonho que algum dia fosse de fato. Ah, se só dependesse de mim... Daqui há quatro anos, vestiria beca e seguraria um canudo. Eu teria gravadores, microfones, câmeras, blocos e canetas a mão. Tec tec tec. Dedos rápidos. Redação.
Já estaria fazendo sei lá o quê. Ou não. Se me perguntarem em que lugar do tempo eu gostaria de estar, diria que eu gostaria de viver exatamente o agora. A noite de sexta-feita. A fuga. As mentiras que sou obrigada a contar. A crise. O quase-impeachment. A censura. O bloqueio. A raiva que passa antes do que eu gostaria para parecer forte. A indecisão. O presente já é passado, e o que já passou é o que me torna eu. E o que quer que eu viva agora, eu preciso viver.

O futuro está nas minhas mãos? Por enquanto, ele não me pertence. Ele é do pagador. Chefe-da-família. Rei-sol. "É melhor ser temido que ser amado." Sócio majoritário da minha vida. É de Deus e do mundo. E no meio disso tudo, é um pouquinho, só um pouquinho, meu.

Os anos são dourados e negros ao mesmo tempo. Enquanto é uma época maravilhosa da minha vida, também vivo perturbada pelas minhas escolhas. As que já fiz, e as que ainda vou fazer. Todos acham que sabem o que é melhor para você. E a resposta é curta e simples: dinheiro. Status. Segurança. Comodismo. Por que tanta insistência para que eu faça algo Direito?

É um saco perceber que o que você pensa não vale de muita coisa. E se quer saber também, nem de direita eu sou. Minha vida segue a máxima de ser levada a sério quando falo brincando e receber um saco de risadas quando falo sério. Dói no fundo da minha alma as ironias que tenho que escutar, quando eu tento, simplesmente, falar.

Eu, que quero ser gente, escuto que o sonho de um pai é ter uma filha fútil. A mesma que escuta quase todos os dias - quando não consegue evitar o encontro - que faz um curso de vagabundo. A que devia procurar algo que faça realmente estudar ao invés de escrever besteiras na internet. Que não vai ser ninguém na vida. A que, por mais que queira pagar de valente, sai quase escondida quando quer ir para a faculdade de shorts no verão. Que escuta da mãe que é sempre melhor ficar calada e aceitar para evitar, porque ele está sempre certo. Sou a menina que respira fundo todos os dias, para não jogar tudo para o alto.

Aí eu percebo que eu nunca vou agradar ninguém. E continuo. Escuto mil e uma coisas de todos os lados. Mas me sinto mesmo um lixo, na hora de entregar o boleto. "Deposite e ganhe o direito de me colocar para baixo." Na frente dos outros, faz de conta que me admira. Para me sentir menos pior, não levo como obrigação de provedor ou doação. É financiamento, empréstimo, dívida. E eu tenho que aceitar de bom grado, obrigada. Dizem que devo agradecer a todos os santos por, apesar de tudo, poder estar realizando meu sonho - ainda que debaixo de lágrimas tímidas no caminho do ônibus ou de um choro sem vergonha em frente ao computador.

Uma profissão é como um relacionamento. A faculdade é um namoro, o estágio é um noivado, a formatura é a festa de casamento. A beca é o vestido de noiva e o diploma, a aliança. Concedo minha mão ao jornalismo como alguém que se entrega por amor. Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, por todos os dias da minha vida.

E qualquer coisa que venha além disso, vai ser só para me somar, como profissional e como gente. Um casamento por amor pode até dar errado. Uma paixão pode ser fogo de palha. Mas imagina só que infeliz seria casar com quem não se ama? Cursar algo só pelo dinheiro é como casar por interesse, um golpe do baú. Deixar alguém escolher uma profissão por você é como aceitar um casamento arranjado. O negócio pode até parecer vantajoso, mas eu mesma não vejo benefícios em me ver presa em algo que não me faça feliz, não me dê prazer.
Parece uma visão romântica e é mesmo. A vida que me prove o contrário, que estou errada, mas por enquanto me deixem pensar que estou certa. Não quero só uma profissão qualquer, que me dê grana para sobreviver. Quero um sacerdócio. Acredito que assim deveria ser. As pessoas deviam se apaixonar mais pelo que fazem. E viver ao máximo aquela escolha feita lá no vestibular ou não, porque curso superior não é a única opção. 
Mil e uma coisas podem acontecer no caminho, posso desviar, tropeçar ou sei lá o quê. Mas o pior erro é justamente escolher logo de cara algo que já se sabe que não vai te fazer feliz. Erro é não seguir os sonhos. Não apostar todas as fichar naquilo que a gente acredita até o fundo do coração, da alma, do poço. Erro é casar por qualquer motivo que não seja amor.
Sei que falei mil e uma besteiras, mas não volto atrás. Respiro fundo mais uma vez. Sorrio. Me olho no espelho. Enxugo a lágrima. Vejo o brilho nos meus olhos. Sonho acordada mais um pouco ao som de Lana Del Rey. Confesso que aprecio esses momentos. E para ser sincera, escrever para mim é mais prazeroso que qualquer experiência que já tive com garotos (nem que eu escreva sobre como elas foram boas). Sou um projeto de workaholic e gosto de me imaginar assim.

E mais uma vez, tudo isso já teve seu momento de de serventia. Algumas palavras. O prazer dos artistas, um pouquinho de dor. Desabafar me faz bem. Tenho lá a minha veia literária. Dedicaria o jornalismo a ela ou ela ao jornalismo? Que seja.

Um feliz dia do jornalista a todos os profissionais que fazem meus olhos brilharem, aos meus professores maravilhosos, aos estagiários que servem cafezinho, às vítimas do desemprego, aos mal pagos, aos desistentes, aos estudantes, aos Williams, Sandras, Evaristos, Guillermos, Wintours, Scherbatzkys, Herzogs, Clarks... e quem sabe um dia, Alice. E a todos aqueles que tentam nos fazer desistir, beijos de luz.

E essa matéria, eu não derrubo. Publique-se.

Um comentário:

  1. Ai miga, dá cá um abraço! Realmente muito difícil quando nossos pais não enxergam as coisas da mesma forma que nós, não entendem nossas escolhas nem as apoiam. Mas ai nós temos que nos virar nos 30, ou no meu caso fazer duas faculdades para agrada-los e também seguir meu sonho. Espero que você se encontre e no futuro possa provar pra eles que eles estavam errados. Você é maravilhosa e escreve muito bem, parabéns!! Não sei se você sabe mas muita gente te admira em segredo. Beijosss.

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