quarta-feira, 20 de julho de 2016

Som do silêncio

music, flowers, and volume image
Ah, que saudades do som do silêncio. Escrevo justo do raro momento em que ele me visita. Hoje é uma segunda-feira, é claro. É tarde da noite, tive que esperar o sono de todos. Não quero nem pensar no dia de amanhã, e já peço ao meu chefe que me perdoe, foi minha única opção. Como jogar fora o único momento em que essas vozes se calam, as televisões se desligam e o meu sono permite que eu me dê ao luxo de sentar e trocar um dedinho de prosa comigo mesma?

E como não poderia esquecer... o bar não abre. 

Malditas sejam as sexta-feiras. Sábados. Domigos. Vésperas de feriados. Feriados. E agora até as quartas e quintas. Malditos sejam todos os dias em que vocês me impediram de estudar, trabalhar, descansar ou me divertir

Que me desculpem os boêmios, mas o sossego de uma cronista notívaga é fundamental. O sossego de qualquer pessoa é fundamental. Da minha irmã de seis anos, minha avó de 90, da vizinha noveleira, da tia viciada em Netflix, do louco por futebol, da prima que estuda para passar no Enem, do trabalhador cansado, do casal que só quer ouvir um blues com vinho tinto... 

Por mais que eu tente, não consigo me isolar dos som dos teclados robóticos que invadem minha casa sem pedir licença ou por favor. Sem bater na porta ou pedir desculpas. Sem perguntar se pode ou se eu quero receber sua visita. Nada. Porque parece que eu não tenho escolha. Nem direitos.

Alguma lei da boa vizinhança, escrita em lugar nenhum, diz que não seria muito agradável da minha parte falar alguma coisa. Na verdade, não que eu ligue muito para isso, só evito o confronto e empurro com a barriga. Confesso também que tenho um pouco de pena. Até porque, não se engane, também gosto de uma boa boemia. 

Mas não na minha casa. Quase todo o santo dia. Me impedindo de viver no meu próprio casulo. 

Você deve saber que o seu direito termina quando invade o meu. E se não sabe, estou aqui para avisar. Não falo de boca para fora, existem leis que determinam isso. 

Espero que não me tratem como uma louca. Lembram da única vez em que disse um algo sobre isso? Espero que não se repita. Ou melhor, desejo que vá embora e traga a paz de volta. Ou dê um jeito. Faça alguma coisa. Encontre uma solução.

Tive uma ideia. Que tal trocarmos de lugar? Passe um mês na minha casa e tente escrever um post para o blog, gravar uma narração para o trabalho da faculdade, gravar e editar um vídeo e escrever um romance ao som da voz fanha do outro lado da rua. Aproveite e pergunte o que a rua inteira acha sobre isso. Depois conversamos.

É uma ilusão achar que serei levada a sério quando gente mais importante não foi. Dedico esse texto a quem fez esse tão bom bar e lembro que eu não ainda existem mais centenas de pessoas prejudicadas por vocês.

E aos leitores do meu blog, peço perdão pela pouca atenção. Acho que já entenderam qual é o culpado.

Um comentário:

  1. Olá, Alice! Estou estonteada com tamanho talento para escrever! Todos os textos que você pública aqui, as crônicas etc.. são seus? Se forem, parabéns mesmo! São lindos, cheios de talento!!! Parabéns, você tem sucesso. Visite meu blog, quero muito conhecer mais sobre seus textos!!

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