O avião foi
subindo para as nuvens enquanto o meu coração continuava naquele saguão, com
você. Percebi que minhas mãos estavam suadas e os meus olhos estavam molhados.
De repente, ouvi o som do meu soluço. Eu estava nas nuvens, mas para mim o
paraíso havia ficado lá em baixo.
Seria mais
fácil se você tivesse me esquecido. Seria mais fácil se você tivesse guardado
seu amor para você, e tivesse engolido a merda do “Eu te amo” que você me
disse. Definitivamente não foi a melhor hora para declarar-se para mim.
Um dia antes
de eu ir para Berlin.
Você não
sabe quanto tempo eu perdi com você. Você não sabe quanta raiva eu tinha de
ouvir os detalhes mais sórdidos dos seus rolos. Você vinha chorar no meu ombro
e eu afagava sua cabeça sabendo que comigo seria diferente. Tinha que ser muito
otário para não perceber que eu gostava de você, mesmo que eu tentasse esconder.
Pena que você percebeu quando já era tarde demais.
Eu estava
tão empolgada com a viagem, mas com tanta vontade de desistir. Eu queria mesmo
te levar pra lá, ou queria que você pelo menos me pedisse para ficar.
Eu desisti
de você há uns dois meses atrás. Paramos de nos ver com tanta frequência, e a
minha mente já não estava tão ocupada com você. Mas porque cargas d’água você
tinha que falar aquilo um dia antes da porcaria da viagem?
Ontem eu
juntei uns amigos e fomos comer uma pizza de despedida. Você me arrastou para a
orla depois disso, e foi lá que você disse todas aquelas palavras que eu passei
anos querendo ouvir.
“Eu te amo”. Olhou fixo para mim, e os meus olhos já estavam molhados. Você segurou
minha cintura e se aproximou para um beijo. Foi quando você tentou fazer algo
que eu passei anos sonhando.
Tirei suas
mãos de mim e me levantei. Enxuguei as lágrimas enquanto uma enxurrada descia no
mesmo momento. “É tarde demais.”, foi o que disse. Te deixei lá, peguei um táxi e
fui para casa.
Cheguei ao
aeroporto e encontrei meus pais, e uns amigos mais próximos. Você não estava lá.
Dei adeus e fui para a área de embarque. Quando ele chegou correndo, um pouco
desleixado, com cara de uma noite mal dormida. Devagar e calmamente, mas com o
coração pulsando cada vez mais depressa, voltei.
-
Desculpe-me, por tudo. – E me deu um abraço. Eu retribui com o beijo que
deveria ser dado na noite anterior, ou melhor, eu deveria ter feito essa merda
há anos atrás. É tarde demais.
Última
chamada.
- Que se
dane a Alemanha. – Falei no seu ouvido.
- Já
atrapalhei demais, quem tem que se danar aqui sou eu. Leve isso com você, e
abra quando estiver longe. – Me deu um pequeno envelope vermelho. - Eu te amo,
vá.
Fui.
Já devia
estar bem no meio do oceano, ou quase isso. Peguei o envelope vermelho, e abri.
Havia um papel preto com letras douradas, que dizia: “Glücklich
sein”, seja feliz em alemão. Sorri ao ler isso e percebi que era o mínimo a
fazer.
Reparei que
não tinha reparado quem estava sentado na poltrona ao lado, e vi um alemão bonito de
jeans e camiseta e aparentemente jovem. Ele sorriu para mim e eu me senti patética por ter chorado quase o voo inteiro.
- Vai para
onde? – Ele perguntou e sorriu.
- Berlin
mesmo. Vou passar um ano lá.
- Eu moro
lá! Você vai amar aquela cidade...
E começou a tagarelar sobre a incrível cerveja, as boates loucas, a sua amada cidade natal, Munique, e a sua festa favorita de todas, a Oktoberfest. Eu me apaixonei ainda mais por aquele lugar e percebi que eu morreria de ódio se eu desistisse disso. Ele disse que veio ao Brasil visitar uns primos que moram aqui, e amou esse lugar. Tentou falar português, mas não deu muito certo. Do mesmo jeito que ele disse que o meu alemão não é lá essas coisas. Tudo bem, ele disse que me ajuda.
E começou a tagarelar sobre a incrível cerveja, as boates loucas, a sua amada cidade natal, Munique, e a sua festa favorita de todas, a Oktoberfest. Eu me apaixonei ainda mais por aquele lugar e percebi que eu morreria de ódio se eu desistisse disso. Ele disse que veio ao Brasil visitar uns primos que moram aqui, e amou esse lugar. Tentou falar português, mas não deu muito certo. Do mesmo jeito que ele disse que o meu alemão não é lá essas coisas. Tudo bem, ele disse que me ajuda.
Acho que já
fiz um amigo. A propósito, seu nome é Fred. Que se dane aquele que deixei para trás. Ah, e que ele seja feliz
também.