terça-feira, 8 de março de 2016

Dia de flor, ano de espinhos


Hoje é o dia da mulher e, coincidentemente ou não, estou refletindo ainda mais sobre como é estar na pele de uma delas. Nunca gostei da data, tinha aversão àquelas propagandas açucaradas, depoimentos de super-women, rosas vermelhas perfumadas... Eca. Não gostava, da mesma forma que não gosto de dia das mães, dos pais e dos namorados. Tudo me soa falso, hipócrita. Eu não suporto isso.

Agora eu consigo entender exatamente a proposta da data. A começar pela sua origem, desconhecida ou esquecida por quase todo mundo. Parece mentira, mas lá na magnífica New York, na metade do século XIX, em 8 de Março, mais de uma centena de tecelãs foram queimadas vivas dentro de uma fábrica só por reivindicarem seus direitos trabalhistas. Então, meio século depois, na Dinamarca, o "Dia Interncional da Mulher" foi decretado, em homenagem a essas operárias e a todas as mulheres que sofreram.

A intenção era criar debates, conferências e reuniões para discutir o papel da mulher na sociedade, e assim, tentar lutar contra o preconceito e desvalorização da mulher. Nada disso foi criado para distribuir florzinha para "as grandes mulheres por trás de grandes homens". É bizarra a conotação que o 8 de Março tem hoje em dia.

Tem gente que se vangloria porque podemos votar, trabalhar, estudar, fazer sexo por prazer, sei lá. Engana-se quem diz que já está bom. Não está. Não tem igualdade, ainda. Ainda não somos iguais. Estamos longe. É engraçado quando dizem que queremos a superioridade feminina, que temos "privilégios". Não sabia que ser considerada gente era ter uma vantagem

Gente? Como a gente? Nada disso. Ser mulher é ser diferente. É ter um peso a mais nas costas. É não ser ninguém sem um homem ao lado. É viver com um "e se". Ter que considerar mil e um fatores antes de sair. Ter medo de ir e vir. E o pior de tudo, não ser levada a sério.

Milhares de mulheres são violentadas de diversas maneiras pelo mundo o tempo inteiro. O caso das mochileiras argentinas assassinadas no Equador por estarem "sozinhas" me deixou ainda mais triste porque eu me senti próxima delas. Eu me imaginei ali, naquela situação. E foi chocante perceber que eu tenho um empecilho gigantesco para realizar meus sonhos: ser uma garota.

Eu também quero viajar sem depender de ninguém. Ir com uma mochila nas costas onde der na telha. Sozinha, se assim preferir. E quando digo sozinha, digo sozinha de verdade. Só eu e eu. Gostaria de lembrar aos que tentaram justificar o caso com o argumento que elas estavam desacompanhadas que elas tinham a companhia uma da outra. Na minha época, isso não era ser sozinha. Agora se para você só homem é gente...

Eu quero ir caminhar na praia numa tarde de domingo ensolarado sem esperar a disposição do meu pai ou namorado - que nem tenho - para ir comigo. Sem me preocupar em calcular o tamanho da roupa que visto para não ser notada. Sem, mesmo assim, ser chamada de gostosa por um estranho e achar que vou ser atacada ali mesmo. Quero viver sem que por o pé para fora de casa seja um ato de coragem.

Queremos ser gente. Isso tá errado. Tá tudo errado.

É por isso que hoje eu acredito em 8 de março. Porque em meio a flores, maquiagens e bombons, sempre tem alguém que para para falar do que é urgente. Preciso fazer alguma coisa, mas sinceramente, não sei o quê. Se falar adianta, eu não sei. Mas ficar calada, eu tenho certeza, também não serve de nada. 

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