sábado, 23 de agosto de 2014

Insônia se mata com sujeira

Se você está animadinho demais para um texto de lamentações de uma pseudo-escritora frustrada, pode parar de ler pois é isso que você vai encontrar. Afinal, o que poderia sair da mente de alguém numa noite de sexta-feira com a companhia de um computador? Ok, muitas coisas. Não no meu caso.

Percebo o quanto a minha vida é vazia e limitada quando ponho umas musiquinhas aleatórias pra tocar - algo que as pessoas julgam inspirador - olho para a tela do computador e lá está ela, limpa como nunca. Ou melhor, limpa como sempre. E esse é o problema. Não ter palavras para sujá-la com ideias mirabolantes e histórias interessantes.

Se eu quisesse limpeza e organização - pelo menos quando se trata de pensamentos - acho que eu não teria escolhido humanas, muito menos jornalismo ou escrita. Ou não, quer dizer, escolhi humanas justamente por não saber fazer contas, não gostar de cuidar de gente doente nem ter voz para cantar. Por mais que eu goste de ler e escrever, no fim, minhas poucas habilidades não me deram muita opção.

Alguns gatos pingados - talvez por pena ou mera educação - insistem em dizer que tenho algum talento. Talvez eu tenha, mas eu estou escrevendo e não quero raciocinar bem. Quero liberar as besteiras que passam pela minha cabeça antes de eu desistir; enquanto esse meu mundo particular não seja só depósito de poeira e teias de aranha.

Quero escrever qualquer coisa mesmo que não seja lá muito produtivo. Quero usar pontos, vírgulas, letras, acentos e aspas. Salvar pensamentos, emoções, lembranças, para um pequeno pedaço da eternidade passando no mundo exterior à minha cabeça. Quero fazer pensar, emocionar e no fim disso tudo, ser lembrada.

Quero coisas demais, não tenho como dar conta. Nem dos meus sonhos, nem mesmo das minhas contas. Queria ser aquela que conta um conto que encanta, conta o que conta em cada canto do planeta, e escuta o que contam pra no fim contar pro mundo tudo o que queira contar.

Entretanto, já não tenho mais condições para fazer questão de tanto. Aprendi com um best-seller que, cedo ou tarde, morrerei. Não serei mesmo lembrada e isso não importa porque cadáveres não lembram mesmo de nada. Agora, só faço questão de sossego. Consegui sujar uma página, posso dormir, enfim. Limpeza não faz bem pro sono de uma pseudo-escritora frustrada e cansada, pelo menos não a limpeza de páginas. 

E hoje, é só disso que eu preciso. 

De uma boa noite de sono.


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