terça-feira, 29 de março de 2016

O que a novinha quer?

 
Tava no fluxo, avistei a novinha no grau. Sabe o que ela quer?

Sempre questionei essa música. Se só o termo novinha por se só já me incomodava, dizer que ela quer pau é mais bizarro ainda. Não sei até que ponto esse tipo de discurso, e toda a erotização infantil ali contida, influencia a cabeça das pessoas, porém, vocês têm de concordar comigo quando digo que é no mínimo paradoxal linchar um pedófilo num dia, e no outro dizer que uma criança quer sexo. Oi?

Não faz sentido. Em qualquer idade, hipersexualização, assédios e abusos são horríveis, mas na infância é pior ainda. Se as mulheres são tratadas como pedaços de carne, as meninas são as vitelas humanas. Carne fresca. Argh.

Nós NÃO somos nada disso. Mulheres são mulheres, garotas são garotas, gente é gente. Toque a campainha. Nossos corpos são de propriedade privada. Casinha da alma. Só se pode entrar com a nossa permissão, tá entendendo? O que falar então de quem tenta invadir o que sequer terminou de ser construído? Entre metáforas meio estranhas, acho que fui entendida. É doentio!


Graças a sei lá o quê, o máximo que já sofri em relação a isso foi ser seguida na rua por uma caminhonete branca em plena manhã, no caminho para a faculdade. Eu fiquei apavorada. Outro dia fui caminhar e ouvi tanta coisa que eu me perguntei o que havia de errado comigo. Será que eu estava me arriscando demais só por não me trancar em casa num dia de domingo? Nos três dias em que saí para tentar levar uma vida mais saudável, inconscientemente tentava calcular com precisão científica se a minha roupa teria algum potencial de chamar atenção. Eu juro. Amo me vestir, acho divertido. E mesmo assim, me via obrigada a vestir o short menos curto e a camisa mais folgada. É justo?

A pedofilia é o último estágio da escrotice humana quando se trata de violência sexual. Mas é bom saber, para você que tem mamãe, irmãzinha, filhinha e até filhinho, que hipersexualização e assédio, também são tipos de violência.

Quando penso em feminismo, confesso que já nem penso tanto por mim mesma. Penso na menina que tem o mesmo sangue que o meu e eu vejo dormir indefesa todos os dias. Como alguém seria capaz? Não quero que ela seja a novinha de ninguém. Nem quero que, quando ela cresça, sofra sequer um rompante de assédio. Quero que um dia se torne livre e independente para fazer o que bem entender da própria vida. Quero levá-la para viajar sem me preocupar se vai ter um homem ou não conosco para que sejamos respeitadas. Quero que ela seja quem ela quiser. Quero que ela seja gente.
Sei que não vai ser tão fácil. Não é. Não vai ser para mim também. Não está sendo. E o pior é saber: poderia ser muito pior.

Li milhares de relatos horríveis de abuso e assédio na internet durante os últimos anos. Outro dia, cheguei a quase chorar com a palestra da Juliana de Faria no TED, da polêmica campanha Chega de Fiu Fiu. Pensando nisso, aproveitei a oportunidade em um dos primeiros trabalhos da faculdade (tenho tanta coisa para contar a vocês no próximo Diário de Universitária...) para tentar fazer algo realmente relevante.

Sei que não posso mudar o mundo, mas o que eu não posso fazer, é não fazer nada. Pensei em um conceito para o vídeo que tentasse transmitir tanto o sentimento de uma garota violentada, quanto o sentimento de medo que todas as mulheres têm disso acontecer. Também queria abordar assédio e hipersexualização infantil, de modo que as pessoas pudessem se mover em torno dessa causa e alguém, pelo menos uma só pessoa, se sensibilizasse.

Talvez eu ainda não saiba exatamente como organizar toda a bagunça que se passa dentro da minha cabeça e colocar para fora exatamente como gostaria, vocês sabem disso. E isso é bom, não gosto de me acomodar. Se eu me jogo de cabeça, só aceito o melhor. Confesso que não consegui captar um quarto da carga emocional que pensei, mas me esforcei. E estou feliz por entregar um trabalho pelo menos um pouquinho relevante para a vida de alguém, mesmo com todos os problemas que tive - uma amostra grátis do chumbo grosso que vem pela frente, ou seja, pela minha vida inteira. Enfim, isso me motivou de uma forma que vocês nem imaginam.

Eu quero ser relevante. Mudar a vida das pessoas. Quero que meu conteúdo não se torne mera informação vendida jogada ao léu. De alguma forma, eu quero ser importante. E esse é um dos motivos pelo qual tento sentar numa cadeira e escrever para mim, e para vocês.

#ANovinhaQuer Sonhar.

2 comentários:

  1. Falou tudo! Parabéns pelas palavras bem expressas neste texto, você falou exatamente o que eu penso. bJS
    http://ofantasticomundodairis.blogspot.com.br

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